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8 de agosto de 2012
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“Quase Samba” mobiliza Muriaé!

De 24 de maio a 12 de junho, Muriaé viveu uma intensa movimentação com a gravação do longa-metragem “Quase Samba” em vários bairros da cidade. O filme é dirigido por Ricardo Targino e contou com a participação direta de cerca de 300 moradores locais, entre artistas, técnicos e prestadores de serviço.

Um filme de gente que sonha, uma cidade que sonha junto:

“Um filme de gente que sonha, gente comum, mas cheia de brilho e desejos. Um filme sobre a família, os núcleos de afeto, o milagre do destino que junta e separa pessoas e a luta grande que é viver feliz sobre a terra. A nossa terra: o Brasilzão”.

É assim que o diretor Ricardo Targino fala de seu primeiro longa-metragem, o “Quase Samba”, uma obra de ficção que tem produção da Bananeira Filmes, de Vânia Catani, e participação de grande elenco. Ricardo tem vários curtas-metragens premiados no Brasil e exterior, com destaque para o “Ensolarado”, que participou em 2011 do Festival de Cinema de Berlim, sendo o único brasileiro entre as 59 produções da Mostra Geração. A pré-produção do filme começou em abril e as gravações em Muriaé se concentraram no período de 24 de maio a 12 de junho.

No elenco do longa estão, entre outros, a atriz e cantora baiana Mariene de Castro, vivendo a protagonista; Cadu Favero, Erom Cordeiro, ambos com recente atuação no filme O Palhaço, de Selton Mello; Leandro Firmino, conhecido como Zé Pequeno devido a seu personagem no filme Cidade de Deus; e Otto, cantor e compositor que estreia agora no cinema.

   

    Com gravações no centro da cidade e nos bairros de Nova Muriaé, Planalto, Sofocó, Distrito Industrial, Vila Eudóxia e nos Estúdios da Rádio Muriaé, o “Quase Samba” movimentou a cidade, envolvendo mais 200 pessoas diretamente, entre assistentes de produção, direção de arte, figurino, maquinaria, motoristas, ‘stand-in’, vídeo assiste, e figurantes. E ainda mobilizou hotéis, restaurantes, comércio, empresas de transportes, taxis e outros serviços. Sem dizer o incontável número de moradores que colaboraram para que as gravações acontecessem da melhor forma possível, acompanhando as filmagens no set e não se importando com a mudança em sua rotina.

“Isso vai ficar marcado para nós”, diz Ricardo. “A emoção, a entrega e a dedicação de cada muriaeense, que nos acolheu, trabalhou, ajudou, acompanhou de perto nosso trabalho. De todos que na sua casa fizeram silêncio para que as gravações acontecessem com a tranquilidade que marcou nosso set”. Sobre a escolha de Muriaé para as locações do filme, o cineasta explica: “Queríamos uma cidade que fosse a cara do Brasil do interior e das regiões metropolitanas, e encontramos aqui este cenário singular, além de parceiros importantes, organizados pelo movimento do Polo Audiovisual da Zona da Mata, que deram apoio à produção”.

      

Para Gilca Napier, diretora da Fundarte – Fundação de Cultura e Artes de Muriaé, a gravação do “Quase Samba” na cidade foi uma experiência ímpar para o cidadão: “O desfile de carros com uma filmadora pelas ruas no 1º dia, o convívio do cinema e das pessoas com o condomínio “Nova Muriaé”, a relação da Prefeitura com as necessidades de produção, a participação dos vereadores, das empresas e dos cidadãos criou uma rede de tensões e sensações nunca experimentadas antes. Por trás desta orquestra, regendo de forma muito discreta, o maestro – Ricardo Targino. Pessoa sensível, inteligente que foi construindo sua teia, envolto em uma névoa que o colocava em outro lugar: dentro do filme ‘Quase Samba’”.

Com experiência no cinema e na TV, Cedric Aveline fez a cenografia e direção de arte do “Quase Samba”. Foi em Nova Muriaé que ele viveu sua experiência mais marcante: “Tudo levava a crer que o trabalho nesse bairro seria mais difícil, já que os moradores se ressentem da falta de assistência do poder público. No entanto, foi interessante interagir e transformar o local naquilo em que eles nem mais acreditavam, em algo belo, aconchegante. Fazer parte do processo de gravação de um filme acaba transformando o olhar do espectador, que passa a assistir os filmes com mais cuidado, sabendo das dificuldades de fazer algo esteticamente tocante”.

Juliana Castro, da Fábrica do Futuro, trabalhou como assistente da produtora Brenda Mattos. Ela comenta que a presença da equipe de filmagem na cidade provocou grande impacto na população, em especial nos bairros periféricos escolhidos como locação: “Os moradores do condomínio Nova Muriaé e Planalto deram um show de empenho para que tudo desse certo. Eles se entenderam como parte do processo de produção de uma obra cinematográfica e se sentiram prestigiados com isso. O filme elevou a autoestima deles e valorizou estes espaços, tanto por parte de quem vive ali quanto de quem olha de fora”.

       

O destaque das parcerias locais:

A produção do filme contou com o apoio da Prefeitura de Muriaé, por meio da Fundarte – Fundação de Cultura e Artes de Muriaé, da Fundação Cultural Ormeo Junqueira Botelho, ENERGISA, Grupo Líder, Cristal Temper, Grupo São Geraldo e outras empresas e instituições locais.

Enquanto nos sets uma grande equipe se movimentava em torno de luzes, sons e imagens, do lado de fora, outra grande produção acontecia, a de garantir infra-estrutura para a realização do filme. “Para nós, da Fundarte – a logística e o acolhimento. Em meio a tudo isto, Cesar Piva, Henrique Frade, Mônica Botelho, eu e mais prefeitos e secretários formatávamos o Consórcio Intermunicipal de Cultura (que teve seu apelo no audiovisual) em que participam os municípios de Cataguases, Muriaé, Leopoldina, Mirai, Itamarati de Minas, tudo arrematado e encaminhado para a Câmara aprovar. Esta é a rede que dá suporte às grandes produções cinematográficas em nossa região – é o Polo do Audiovisual da Zona da Mata em plena atividade!”, comenta Gilca Napier.

        

Alunos da recém-inaugurada Escola Municipal do Audiovisual Carlos Scalla aproveitaram a oportunidade de colocar em prática o que aprendem nos cursos e trabalharam como assistentes em diversas áreas da produção.                                                                                                                   

A Fábrica do Futuro, de Cataguases, ofereceu suporte técnico, infraestrutura, equipamentos e pessoal para a produção do filme, com destaque para a montagem do cenário de uma das cenas – o quarto/escritório de um personagem meio ‘nerd’, com muitas televisões, telas de computadores, caça-níqueis e outros eletrônicos. “Minha ideia é que os sonhos do personagem seriam projetados nas telas destes equipamentos. Foi aí que procurei a Fábrica do Futuro e com a ajuda da equipe conseguimos todos os equipamentos necessários. E o melhor: pessoal qualificado para montar a parte eletrônica, fazer a computação gráfica e os efeitos especiais para esta cena, além da edição dos vídeos dos ‘sonhos’ do personagem”, diz Cedric.

A revolução das pequenas e médias cidades brasileiras:

Ricardo Targino diz que saiu de Muriaé mais convencido de que as cidades do interior do Brasil têm potencial para desencadear uma revolução social e econômica no país, criando e praticando novos modelos de desenvolvimento sustentável: “O crescimento brasileiro pós-Lula, a perspectiva de distribuição de poder econômico, material, político e cultural horizontaliza os Brasis, as diversas regiões do país e principalmente as cidades de médio e pequeno porte. Essa é a revolução do interior, que cada vez mais será produtor de riqueza e não apenas consumidor do que vende o grande centro”, diz o cineasta.

É dentro desta perspectiva que ele vê o Polo Audiovisual da Zona da Mata de Minas Gerais: “O Polo combina, de forma inédita no Brasil, a parceria do poder público, da iniciativa privada e das organizações da sociedade civil, mobilizando a comunidade local e inserindo-a no processo desde seu início. Este movimento estruturado e com planejamento é fundamental para o sucesso da iniciativa, que ainda vem acompanhada do crescimento do mercado audiovisual e o incremento da demanda de produção nacional, já que aprovamos uma lei que fixa cota de tela de produção nacional na TV a cabo. Isso vai gerar mais oportunidades de trabalho e dar mais visibilidade aos artistas do Brasil, à riqueza e diversidade de suas obras”.

Para Cedric, apesar de algumas dificuldades – que foram superadas com criatividade – a escolha de Muriaé como locação valeu a pena: “Cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo, são cidades saturadas, e de certa maneira cansadas desta troca. Cidades que estão livres destes preconceitos cinematográficos estão mais dispostas a tentar algo novo, com suas cabeças frescas e prontas para criar. A vontade de conceber algo novo é maior e com muito mais paixão”, diz o cenógrafo.

Para Juliana, o “Quase Samba” mostrou que Muriaé e toda a região têm condições de sediar produções como essa: “O Polo Audiovisual é uma realidade e o resultado está aí, materializado nesse filme: boa parte do dinheiro investido nessa produção está ficando em Muriaé, mais o conhecimento e experiência adquiridos, a troca de informações e a mobilização de toda uma cidade em torno do desejo de fazer cultura. Acredito muito que de agora em diante aprenderemos a criar as oportunidades e não mais esperar que elas aconteçam”.

Fotos: Silvan Alves

Texto: Beth Sanna – Núcleo de Comunicação Fábrica do Futuro



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