ARTIGO de CESAR PIVA (*)
Há um ano, no início da pandemia do coronavírus que levou a humanidade a um inédito isolamento social em massa, o setor cultural foi um dos primeiros segmentos a paralisar as atividades presenciais, com impactos imediatos na vida e no trabalho de profissionais, grupos, instituições e empresas.
No entanto, rapidamente, nos reinventamos e lá estávamos nós, colocando o nosso trabalho à disposição do público, em múltiplas telas e formatos, desde espetáculos de música e podcasts, teatro e dança, livros, filmes e séries, entre outras artes em um mundo agora totalmente online e conectado pela internet.
Nossa atitude imediata foi de enfrentar este momento com solidariedade, afeto e arte, para de alguma maneira minimizar os efeitos deste drama mundial, promovendo algum conforto e entretenimento, sobretudo, para o cidadão brasileiro.
Em nosso setor, já em abril de 2020, lançamos a plataforma www.poloaudiovisual.tv em parceria com produtoras e o movimento “Energia do Bem” liderado pelo Grupo Energisa. Com curadoria e programação do Instituto Fábrica do Futuro e infraestrutura de streaming da Samba Tech, a “MOSTRA FIQUE EM CASA” exibiu online, ao longo de um ano, mais de 300 produções, dentre filmes, séries, videoclipes, espetáculos e “lives” com convidados especiais. Outro momento importante foi a realização online do “FESTIVAL FIQUE EM CENA” reunindo uma ação coletiva de arrecadação de recursos emergenciais para 40 grupos músicos brasileiros.
Em Cataguases, em plena pandemia e respeitando todos os protocolos de segurança, fizemos uma ação incrível com a comunidade de cinco bairros no projeto “CONEXÃO, MEMÓRIAS E AFETIVIDADES”, organizando um circuito de afetos e uma rede de solidariedade entre vizinhos, famílias e amigos. Uma gincana cultural online promoveu o registro de histórias da comunidade e o reconhecimento de personalidades locais. A entrega do “Kit Afeto” na casa dos participantes contendo livros, brindes, máscaras e álcool em gel, garantiu o engajamento e a participação. A circulação inédita de uma moeda social “o Ktá” promoveu uma rede de empreendedores e habilidades, fortalecendo a economia local.
Em São João Nepomuceno, em 10 de setembro, lançamos o projeto CIDADE DA MÚSICA, uma iniciativa de um potente grupo de profissionais locais do setor musical em parceria com o Polo Audiovisual da Zona da Mata, a Prefeitura Municipal de São João Nepomuceno, Sebrae, Secretaria de Estado da Cultura e Turismo e Grupo Energisa. Surge assim um inovador arranjo criativo que tem como propósito diversificar a economia da cidade e promover a integração de profissionais da música e do audiovisual em Minas Gerais. Desde então, dezenas de ações foram adequadas para o mundo online, com serestas, “lives”, encontro de compositores, mostras de música instrumental, rodas didáticas musicais, workshops e fóruns regionais, entre outras atrações.
No Brasil e no mundo, ações simultâneas eram viabilizadas, movimentando uma onda gigante de solidariedade, compaixão coletiva e cooperação que reuniu milhões de pessoas, empresas e instituições. Em contraponto, o negacionismo, a intolerância, o egoísmo e a cultura do ódio também ganham contornos mundiais, somando uma crise sanitária à uma crise civilizatória, um duplo desafio para toda a humanidade.
De um lado, na luta, com a ideia de dever cumprido e um certo conforto por estarmos vivos – contribuindo de alguma maneira para continuar a dar sentido à vida. De outro, no luto, com angústia pela perda de centenas de milhares de vidas, ceifadas prematuramente por uma crise anunciada em nosso planeta. Começamos assim 2021, misturados e divididos por sentimentos de esperança e desalento, dor e alegria.
“Essa doeu. Não na carne, mas no peito. Queria comemorar, mas não é justo” disse no início março a cantora Elza Soares ao tomar a vacina, aliviada, mas ao mesmo tempo sofrendo ao pensar que não deu e não dará tempo para muita gente se vacinar em nosso país.
Para nós, dói também em nosso peito a perda de três pessoas muito queridas e mestres na vida, vítimas desse vírus cruel: o cataguasense Jorge Laborão, motorista e animador de viagens que durante anos no Projeto Tela Viva de Cinema Itinerante, nos ajudou a promover nosso audiovisual em bairros e distritos de dezenas de pequenas cidades na Zona da Mata mineira, os cariocas Carlos Alberto Teixeira Pinto, conhecido como “Carlão Lenda” da maquinaria cinematográfica que conosco integrou a “confraria” do Cineport – Festival de Países de Língua Portuguesa e foi consultor técnico do Festival Ver e Fazer Filmes, e Antônio Luiz Mendes, um dos grandes nomes da fotografia no cinema brasileiro que atuou em importantes produções no Polo Audiovisual e no Brasil.
Em nome de toda a nossa equipe, das instituições e produtoras que atuam no Polo Audiovisual, prestamos aqui, uma singela homenagem! Jorge, Carlão e Antônio Luiz, estarão presentes eternamente em nossas mentes e corações.
Em nome deles, seguimos em frente!
Assim, especialmente neste mês de março, celebramos a vida, destacamos a importância e a presença das mulheres e da dimensão feminina no âmbito de nosso trabalho. Saudamos todas as mulheres de nossa equipe e aquelas que estiveram conosco ao longo de nossa trajetória, representadas aqui pela minha companheira de vida, a jornalista Beth Sanna, editora de conteúdos que, desde 2009, zela pela qualidade de conteúdos, na divulgação e prestação pública de todas as nossas ações. Com o vídeo “TREM DO FUTURO” apresentado no Fórum Cidade da Música, destacamos também a força inspiradora e a liderança de Mônica Botelho, diretora-presidente licenciada da Fundação Cultural Ormeo Junqueira Botelho do Grupo Energisa.
Quem conhece de perto a experiência e o desenvolvimento do Polo Audiovisual, sabe da batalha em todas as nossas ações pela garantia da igualdade de gênero, reconhecimento, respeito profissional e ética nas relações interpessoais.
Novos caminhos!
Em abril, iremos celebrar 6 anos de criação da Agência de Desenvolvimento do Polo Audiovisual da Zona da Mata de Minas Gerais (APOLO), com muitos resultados alcançados e com enormes desafios ainda pela frente, sobretudo, considerando o atual período danoso que enfrentamos no campo da Cultura no Brasil.
É voz corrente em toda sociedade que a pandemia acentuou muitos de nossos problemas, mas que também pode ser uma grande oportunidade para superá-los. Acreditamos nisso e, mais do que nunca, apostamos nos quatro pilares da ONU para o desenvolvimento sustentável: Política, Economia, Ambiente e Cultura.
Neste contexto, estamos nos preparando para, em 2022, encerrar um ciclo de 20 anos iniciado em 2002 com a inauguração do Centro Cultural Humberto Mauro e o lançamento do “Programa de Cultura e Desenvolvimento” que nos guiou até agora.
O fim de um ciclo pode e deve ser o início de outro, o que vem por ai ainda é difícil dizer neste momento. Quem nos conhece sabe que temos muitos sonhos, esperança e disposição sempre ativadas. Na certeza que a Cultura, o Conhecimento e a Ciência darão conta de superar o vírus e recuperar a saúde de nossa “casa mãe”, bem como, na crença de que a sabedoria e coragem do povo brasileiro darão conta também de recuperar a lucidez, os valores humanos e a vida democrática na história de nosso país.
Com afeto, confiança e cooperação saberemos escolher e construir novos futuros!
Agora é vacina já e para todos!
Cesar Piva
Sociólogo com pós-graduação em Cultura e Educação. Diretor-presidente da Agência de Desenvolvimento do Polo Audiovisual da Zona da Mata MG e do Instituto Fábrica do Futuro
* Para quem não conhece, Graúna é o nome dado pelo cartunista Herbert de Souza, conhecido como Henfil, a um dos personagens mais importantes na resistência à ditadura militar e em sua luta pela redemocratização no Brasil dos anos 70 e 80 do século passado. A Graúna de Henfil era uma ave nordestina, analfabeta, sábia e politizada.
Ela é muito importante para melhorarmos nossos serviços
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