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9 de agosto de 2012
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Cataguases – uma cidade cenográfica

Com grande potencial para abrigar diversas produções audiovisuais, a cidade dispõe de um conjunto arquitetônico bem preservado – com destaque para seu acervo modernista -, calçamento, arborização e belas paisagens naturais, cortadas pelo Rio Pomba. Em especial, uma população com olhar diferenciado para o audiovisual, guardiã de uma história que remonta aos primórdios do cinema nacional, com o pioneiro Humberto Mauro.

O cineasta Guilherme Fiúza conhece bem Cataguases e região. Participou das duas edições do Festival Ver e Fazer Filmes, em 2008 e 2010, atuando como consultor e diretor de “Platô”, e esteve presente em fóruns sobre a economia criativa local. Ele fala sobre a escolha da cidade para a realização do longa-metragem:

– “Quando vim para Cataguases, vi um potencial enorme, com um calçamento e arborização impecáveis, uma arquitetura ainda remanescente do final do século XIX e início do século XX, um acervo modernista muito bem preservado e, junto com tudo isso, vinha o projeto do Polo Audiovisual, e o desejo de se criar uma alternativa de desenvolvimento cultural e econômico para a Região.

Oswaldo Lioi, diretor de arte do filme, observa que está cada dia mais difícil filmar nos grandes centros urbanos e as cidades do interior têm sido a escolha de muitos cineastas.

– “Em Cataguases nós encontramos um grande facilitador: uma boa vontade enorme das pessoas para emprestar móveis e até objetos pessoais antigos, que nos ajudaram a criar esta ambientação dos anos 30. Aqui mesmo no Colégio Carmo, além do espaço físico que nos foi cedido, ainda tivemos acesso a móveis, carteiras, quadros, e objetos como mapas e equipamentos que pertencem à época que queremos retratar”.

          

Lioi também tem sua história com Cataguases, já tendo participado do Festival Ver e Fazer Filmes como consultor. Ele destaca uma experiência marcante que viveu na cidade, que foi a construção de um estúdio de gravação dentro de um clube de recreação, o Meca.

– “Encontrar o estúdio ideal é quase impossível, mesmo nas grandes cidades. No Meca, o espaço era amplo, confortável, mas não era apropriado no sentido da acústica. Então a gente projetou paredes duplas para melhorar a absorção do som, tetos que deslizavam para obter a luz necessária, janelas que formavam reentrâncias que, num momento, podiam ser usados como vãos para a gravação da cena, em outros eram cobertos com um quadro para compor o cenário de um quarto. Foi uma façanha, mas que pode ser repetida em outras ocasiões”.

Neste estúdio de 400 metros quadrados foi criado o interior da casa do protagonista, com mobiliário, decoração e objetos típicos de uma família de classe média daquela época.

– “Foram 2 meses de trabalho, envolvendo muitos profissionais. Criamos uma estrutura capaz de abrigar os cômodos da casa, o sótão, e ainda a base de produção, manufatura, grids e camarins. Esta foi a locação principal do filme, com grande parte das filmagens acontecendo neste ambiente”, comenta o produtor André Carreira.

          

A Fábrica do Futuro e o Instituto Cidade de Cataguases ofereceram apoio na realização do longa-metragem, cedendo espaço físico para a produção de figurino, empréstimo de equipamentos, de veículo, e participação de sua equipe em diversas funções da gravação.

– “Desde a pré-produção do filme, iniciada em fevereiro, nós acompanhamos a equipe do filme na intermediação com vários setores da cidade, tanto na indicação de locações e espaço para a base de produção, quanto no acesso a fornecedores e empresários locais”, diz Djalma Dutra, gestor das instituições.

 Junto com a Agência de Desenvolvimento do Polo Audiovisual, as instituições locais cumpriram um papel central para dar suporte institucional, técnico, logística e de infraestrutura para a produção de “O Menino no Espelho”. O momento foi importante também para a ampliação do cadastro de artistas, técnicos e profissionais de diversas áreas, fornecedores de serviços e equipamentos na região.

Para Eduardo Pereira, diretor de produção de “O Menino no Espelho”, foi muito bom encontrar na cidade pessoas que já tinham conhecimento dos procedimentos da indústria cinematográfica:

– “Impressiona saber que, numa cidade de 70 mil habitantes, já exista esta predisposição para a formação de profissionais na área do audiovisual, tanto por iniciativa da Fábrica do Futuro, quanto por outras instituições locais”. No entanto, Eduardo observa que a cidade ainda tem dificuldade de absorver toda a demanda que um longa-metragem traz, e de atendê-las com a rapidez necessária.

– “Um filme de grande porte como o nosso, com envolvimento de muitos artistas, técnicos, efeitos especiais, aluguel de equipamentos, etc, exige um ritmo de produção bastante acelerado. O fornecedor e o prestador de serviço precisam entender isso e atender com presteza”. Segundo o diretor de produção, este é um trabalho para as instituições comprometidas com o Polo fazerem junto ao mercado da cidade, mostrar que uma grande produção cinematográfica exige o compromisso de atendimento diferenciado.

       

O figurinista Ricca fez uma ampla pesquisa de vestuário, tecidos, padronagens e adornos dos anos 30 para atender o roteiro. Em um espaço cedido pela Fábrica do Futuro, Ricca montou o seu ateliê, coordenando uma equipe composta de costureiras de Cataguases e profissionais de outras localidades.

– “Tivemos um ritmo de trabalho muito intenso, onde o empenho e a habilidade das costureiras foi  muito importante. Não conseguimos encontrar todo o material que precisávamos no comércio local, mas fizemos algumas adaptações e o resultado foi ótimo. A grande maioria das roupas usadas pelos figurantes foi produzida aqui na cidade”.

          

Fotos: Gustavo Baxter / Alicate

Texto: Beth Sanna – Agência 21 – Núcleo de Comunicação Fábrica do Futuro 



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