A cineasta mineira Elza Cataldo, diretora do longa-metragem “As Órfãs da Rainha”, constrói a primeira vila cenográfica do Polo Audiovisual que irá ambientar sua trama, passada no século XVI, no então Brasil Colônia. Em fase de pré-produção, o filme conta a saga de três irmãs portuguesas, obrigadas a deixar seu país e vir para o Brasil, território desconhecido que vivia os primórdios da colonização.
Diretora, produtora e roteirista, Elza Cataldo é uma das pioneiras do Polo Audiovisual, tendo atuado na produção do longa-metragem “Meu Pé de Laranja Lima”, de Marcos Bernstein (2010), filme que marca o início da trajetória do Polo no fomento a realizações audiovisuais na Zona da Mata mineira. Com longas e curtas-metragens premiados, Elza é formada em Cinematografia na Universidade de Nanterre e de Sorbonne, na França, professora e consultora em projetos audiovisuais, além de dirigente da produtora Persona Filmes. Sua produção mais recente é o documentário “O Levante de Bela Cruz”, filmado na região de Carrancas (MG) e em fase de finalização. (Foto: Bruno Magalhães).
Há cinco anos, a cineasta desenvolve o projeto de produção de “As Órfãs da Rainha”, longa-metragem de ficção no gênero histórico com roteiro de Elza Cataldo, Pilar Fazito e Newton Cannito, com consultoria do historiador Ronaldo Vainfas, especialista em Inquisição; Mary del Priori, especialista em história das mulheres; e Uri Lam, rabino. O filme tem direção e produção de Elza Cataldo, da produtora Persona Filmes (MG).
Órfãs da rainha é a denominação dada às primeiras mulheres que vieram de Portugal, na maioria das vezes contra sua vontade, com a missão de povoar o Brasil colônia. Nesse cenário inóspito, agravado pelas perseguições e execuções realizadas pela Inquisição, as protagonistas do filme vivenciam de forma diferente o destino que lhes foi imposto.
Desde o início de sua carreira no cinema, Elza Cataldo busca resgatar a história das mulheres no Brasil: “Eu diria que Leonor, Brites e Mécia representam nossas ancestrais. Em memória delas, busquei utilizar uma linguagem que nos represente como mulheres, e também aos negros e índios. A intolerância, a violência, a escravidão, a figura da escrava sexual, tudo isso vem à tona, dialogando com nosso momento atual.Um filme histórico pode ser passado em uma época aparentemente remota, mas que nos remete ao que ainda se passa hoje”.
1ª etapa: Pesquisa histórica e artística
Ambientado no século XVI, o longa demandou uma intensa pesquisa histórica e artística, tarefa que Elza realizou com prazer, chegando a ler mais de 300 livros:
“Além da leitura de livros da Inquisição e de cronistas do século XVI, trabalhei digitalmente os que tinham imagem e fiz uma compilação de mais de mil páginas de conteúdos, que inspiraram a construção dos personagens, diálogos e figurinos. E embora esses diálogos tenham se passado há mais de 400 anos atrás, eles encontram ressonância, infelizmente, no que vivemos no Brasil hoje, com as delações premiadas e pressões para que as pessoas falem o que os inquisidores querem que eles digam”.
Nessa primeira fase da produção, Elza realizou oficinas e workshops com profissionais de diversas áreas do cinema e dramaturgia – roteiro, trilha sonora, figurino, encenação, entre outros – para reconstituição histórica, desenvolvimento do roteiro, composição dos personagens, cenário, vestuário.
“A inquisição é um tema muito amplo que já gerou vários filmes, obras épicas, com fogueiras, cenários imensos, muitas mortes, mostrando a crueldade de uma forma mais, digamos, expandida. Já o nosso filme é intimista, ele traz o tema para um pequeno núcleo. Assim, pude destacar o imaginário distinto de cada personagem, pontuado por efeitos especiais fantásticos”, comenta Elza Cataldo.
Ainda como parte da pesquisa do filme, Elza Cataldo realizou o documentário “A Santa Visitação”, que aborda a primeira visita do Santo Ofício ao Brasil, no final do século XVI, e o curta-metragem de ficção “Ouro Branco”.
2ª etapa: formação de equipe e implantação da vila cenográfica
De volta à Zona da Mata em 2018, Elza Cataldo inicia a segunda fase de produção com a pesquisa de locações. Em uma antiga fazenda na zona rural de Tocantins (MG), não por acaso sua cidade natal, a cineasta encontra a paisagem rústica que buscava. Em Tocantins, que passa a ser um município membro do Polo Audiovisual, tem início a implantação da vila cenográfica.
Para sua equipe técnica, a diretora convidou: Moacyr Gramacho, direção de arte; Erick Saboya, assistente de direção de arte; Luís Parras, cenógrafo; Renata Marquês, produtora de objeto; David Tygel, trilha sonora; Beth Filipecki, figurinista; Sayonara Lopes, figurinista assistente; Pedro Farkas, direção de fotografia; Daniel Sotero, cenotécnica; Hugo Drumond, platô; Gustavo Campos, som direto; Jenifer Rithelle, produção executiva; Luiz Navarro, assistente de produção; Babi Piva, direção de produção; Samantha Oliveira, produtora de elenco; Raquel Costa, assistente produção de objeto; Jonathas Marques Abrantes, registro fotográfico do processo de criação.
Cerca de 40 pessoas residentes na região da Zona da Mata, entre técnicos, mestres de obra, marceneiros, carpinteiros e outros prestadores de serviço participam diretamente da construção de Vila Morena, lugarejo fictício onde irá se passar o drama das três irmãs portuguesas.
“Desde o início, tive a intenção de buscar moradores da região, em especial os jovens, para compor a equipe. Primeiro porque essa região oferece poucas oportunidades de trabalho e de entretenimento. Então a gente chega oferecendo um trabalho digno, com salário digno, a chance de aprendizagem e um tratamento com muito respeito. E o que eles trazem pra gente? Uma forma de fazer: como eles cortam a madeira, como trabalham o barro, e o conhecimento que têm da região. É uma troca muito rica e prazerosa”.
Com barro, bambu, cipó, madeira e pedra, utilizando técnicas artesanais e indígenas, surgem a capela, o engenho, oratório, roda d’água, a roça de mandioca e as casas dos poucos habitantes da vila.
3ª etapa: criação de efeitos visuais, preparação de elenco, filmagem
Na contramão das cenas épicas e impactantes que costumam marcar os filmes que abordam a Inquisição, a cineasta busca um olhar mais intimista em sua obra:
“A inquisição é um tema muito amplo que já gerou vários filmes, com fogueiras, cenários imensos, muitas mortes, mostrando a crueldade de uma forma mais, digamos, expandida. Já o nosso filme é intimista, ele traz o tema para um pequeno núcleo. As protagonistas são mulheres com um universo imaginário muito fértil e por isso sua visão do novo mundo será embasada nos livros dos cronistas europeus do século XVI, marcada por monstros, figuras selvagens, grotescas.
Para destacar o imaginário distinto de cada personagem, Elza irá introduzir efeitos fantásticos no filme, de forma delicada e sutil.
Para o elenco principal, Elza Cataldo convidou Letícia Persiles, Rita Batata e Camila Botelho (indicadas para viver as três protagonistas), Caco Ciocler, Alexandre Ciolette, Juliana Carneiro, Jay Batista, Inês Peixoto, Teuda Bara, Eduardo Moreira, Luiz Gomide, Carlos Magno, Elisa Santana, Fafá Rennó. Já para o elenco de apoio, a seleção será feita por Elza Cataldo com participação de artistas da Zona da Mata em um processo de imersão na vila cenográfica.
Enfim, a partir de outubro, ou no mais tardar, em novembro, todas as atenções da equipe de “As Órfãs da Rainha” estarão voltadas para o céu. Se as chuvas de verão permitirem, serão realizadas as filmagens, que deverão se estender por cerca de um mês.
Na foto: Moacyr Gramacho, diretor de arte, Cesar Piva, diretor do Polo Audiovisual, Elza Cataldo, diretora e produtora, e Eduardo Mantovani, diretor presidente da Energisa Minas Gerais.
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