Veja abaixo entrevista com a jovem realizadora audiovisual Bruna Shelb Corrêa, diretora, produtora, roteirista, montadora e fundadora da Filmes do Mato, produtora audiovisual com sede em Cataguases e em Juiz de Fora.
Formada em Jornalismo pela Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora e em Artes; Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Juiz de Fora, onde também cursou mestrado em Artes, Cultura e Linguagens. Bruna já dirigiu e roteirizou dez curtas-metragens e um longa, que foram exibidos em festivais nacionais e internacionais.
Contemplada em 2019 no Edital Usina Criativa de Cinema, uma iniciativa de formação de novos talentos promovida pelo Polo Audiovisual da Zona da Mata, Bruna Schelb recebeu recursos financeiros e consultorias para produção do curta-metragem de ficção “A Vida é Coisa Que Segue”. O filme, realizado em parceria com seu companheiro Luis Bocchino, foi vencedor de seis Prêmios no 7º Festival Ver e Fazer Filmes, em Cataguases, conquistou vários prêmios em festivais nacionais e foi selecionado para a Mostra Internacional do Cinema Oltre – Palladium Film Festival, na Itália.
Sempre fui interessada em artes em geral e nas palavras. Sobre a carreira no audiovisual, esse nunca foi meu primeiro “plano”, mas quando ingressei na faculdade pela segunda vez, o Brasil era um país cheio de oportunidades nesse setor, que crescia e acolhia cada vez mais profissionais. Hoje, apesar de o cenário ser diferente e eu também ser uma pessoa diferente de 10, 11 anos atrás, eu já estou nesse barco e sigo remando na esperança de me reencontrar com o país que eu amo. Estou certa de que isso vai acontecer.
Por enquanto, e respondendo de forma mais direta, acho que posso dizer que sempre tive interesse naquilo que não fica dito, ou seja, nos subtextos e significados que estão para além da palavra, que foi por onde eu comecei. Sempre gostei muito de ler e hoje me sinto realizada por poder pensar que as palavras que eu escrevo se tornam imagens, com seus subtextos e significados todos escondidos e embrenhados dentro daquilo que eu invento.
O cinema, ainda, sempre foi um lugar de encontro aos meus olhos. Sempre encontrei meu avô nos filmes de faroeste, minha avó nos seriados antigos, minha mãe e meu pai nos filmes de amor. Então, meu objetivo e meu interesse no cinema vêm dessa vontade de também fazer filmes onde essas pessoas possam se encontrar, e quem sabe me encontrar por lá também.
Gosto muito de pensar também que faço filmes para as minhas irmãs. Faço filmes para que elas vejam no mundo a esperança que eu vejo, ainda que ao lado da esperança existam mazelas e injustiças. Faço para que elas não percam a vontade e a coragem de observar, mas também de agir.
São muitos e são plurais. As diferenças sociais, de classe, aparecem em primeiro lugar e acho que devem ser mencionadas. Tive o privilégio de passar por um processo de educação dentro de uma Universidade pública de qualidade pela qual nutro um carinho imenso pela formação humana que me foi dada lá dentro. Acho que do ponto de vista prático posso dizer que tive muita sorte.
Em uma esfera mais subjetiva meu maior desafio é sempre decidir qual história eu quero contar. Não simplesmente como uma escolha entre uma coisa ou outra, mas sobre o COMO contar cada história. As palavras e as imagens importam muito e sempre faço um esforço tremendo para escolher aquelas que julgo certas e necessárias.
A Universidade me preparou para ter senso crítico em minhas realizações. Me preparou para questionar minhas obras no melhor sentido que a palavra questionar pode ter. Me deu, ainda, acesso a materiais para que eu pudesse realizar meus primeiros filmes e quem trabalha no meio do cinema sabe o quanto isso é importante.
Acima de tudo, passar pela Universidade me colocou em contato com pessoas que hoje levo para a minha vida e essa é uma outra coisa que quem trabalha no meio sabe: se você quer fazer cinema é bom ter muitos amigos.
O Edital Usina Criativa representou pra mim um salto de aprendizado tremendo. As consultorias pelas quais o filme passou foram extraordinárias, com profissionais experientes, amáveis e que queriam sinceramente que o projeto se tornasse o melhor filme possível. Estou certa de que o filme teve todo esse sucesso no Festival Ver e Fazer Filmes e em outros festivais ao redor do Brasil e do mundo devido a esses contatos e à equipe tão querida que se reuniu para realizá-lo.
Filmar na minha terra natal, na minha casa, com gente da minha cidade foi uma experiência inigualável até hoje na minha carreira. Eu agradeço a todos o apoio que me foi dado por cada profissional envolvido na jornada de fazer esse filme, desde aqueles que avaliaram o projeto até o último profissional que contribuiu artisticamente para que “A vida é coisa que segue” pudesse sair do meu coração para existir no mundo.
Aguardo já ansiosa para a próxima oportunidade de realizar um filme junto ao Polo Audiovisual da Zona da Mata.
Como celebramos em março o Dia da Mulher, gostaria que você falasse o que é ser mulher num setor predominantemente masculino, o audiovisual.
Essa é uma questão que eu já não sei mais responder tão bem. Quando eu era bem mais nova, eu assistia a filmes e via sempre que eram diretores homens, os cultuados. Eu realmente achava que não existiam diretoras mulheres. Então a conclusão que eu tirava nessa época não era que eu queria ser uma diretora, e sim ser um homem. Aí eu fui estudar. Descobri um mundo de diretoras mulheres que falavam através de suas obras coisas que me tocavam e que eu também queria falar. É claro que ainda admiro muitos homens que são diretores, mas hoje eu não trocaria ser mulher e diretora por nada. Meus filmes falam as minhas verdades para além do meu gênero.
Para 2021, muito infelizmente, pretendo estar em casa, cuidando de mim e daqueles que eu amo. Isso não significa que eu não estarei criando. Ano passado realizei três curtas-metragens de ficção que ganharam prêmios como o 6º Prêmio BDMG Cultural / FCS de curta-metragem de baixo orçamento de concorrência estadual, o edital Itaú Arte Como Respiro, de concorrência nacional, e o Prêmio Janelas Abertas de concorrência local.
Sigo ainda com a minha produtora, a Filmes do Mato e devo mais uma vez dizer que tenho muita sorte pois ao meu lado sempre está o Luis Bocchino que é mais do que o diretor de fotografia de quase todos os meus filmes, mas meu companheiro de trabalho, de cinema e de vida.
Para fazer cinema especialmente num cenário como esse que o Brasil e o mundo enfrentam é preciso persistência e vontade, mas acima de tudo amor.
(Foto: Bruna Schelb e Luis Bocchino recebem os prêmios no 7º Festival Ver e Fazer Filmes)>
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