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18 de setembro de 2019
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“AS ÓRFÃS DA RAINHA”: FILME DE ÉPOCA NO POLO

A cineasta mineira Elza Cataldo, diretora do longa-metragem “As Órfãs da Rainha”, constrói a primeira vila cenográfica do Polo Audiovisual que irá ambientar sua trama, passada no século XVI, no então Brasil Colônia. Em fase de pré-produção, o filme conta a saga de três irmãs portuguesas, obrigadas a deixar seu país e vir para o Brasil, território desconhecido que vivia os primórdios da colonização.

elza-cataldo-foto-bruno-magalhes-diretora-300x300Diretora, produtora e roteirista, Elza Cataldo é uma das pioneiras do Polo Audiovisual, tendo atuado na produção do longa-metragem “Meu Pé de Laranja Lima”, de Marcos Bernstein (2010), filme que marca o início da trajetória do Polo no fomento a realizações audiovisuais na Zona da Mata mineira. Com longas e curtas-metragens premiados, Elza é formada em Cinematografia na Universidade de Nanterre e de Sorbonne, na França, professora e consultora em projetos audiovisuais, além de dirigente da produtora Persona Filmes. Sua produção mais recente é o documentário “O Levante de Bela Cruz”, filmado na região de Carrancas (MG) e em fase de finalização. (Foto: Bruno Magalhães).

 

Há cinco anos, a cineasta desenvolve o projeto de produção de “As Órfãs da Rainha”, longa-metragem de ficção no gênero histórico com roteiro de Elza Cataldo, Pilar Fazito e Newton Cannito, com consultoria do historiador Ronaldo Vainfas, especialista em Inquisição; Mary del Priori, especialista em história das mulheres; e Uri Lam, rabino. O filme tem direção e produção de Elza Cataldo, da produtora Persona Filmes (MG).

Órfãs da rainha é a denominação dada às primeiras mulheres que vieram de Portugal, na maioria das vezes contra sua vontade, com a missão de povoar o Brasil colônia. Nesse cenário inóspito, agravado pelas perseguições e execuções realizadas pela Inquisição, as protagonistas do filme vivenciam de forma diferente o destino que lhes foi imposto.

Desde o início de sua carreira no cinema, Elza Cataldo busca resgatar a história das mulheres no Brasil: “Eu diria que Leonor, Brites e Mécia representam nossas ancestrais. Em memória delas, busquei utilizar uma linguagem que nos represente como mulheres, e também aos negros e índios. A intolerância, a violência, a escravidão, a figura da escrava sexual, tudo isso vem à tona, dialogando com nosso momento atual.Um filme histórico pode ser passado em uma época aparentemente remota, mas que nos remete ao que ainda se passa hoje”.

irmãs

 

1ª etapa: Pesquisa histórica e artística

Ambientado no século XVI, o longa demandou uma intensa pesquisa histórica e artística, tarefa que Elza realizou com prazer, chegando a ler mais de 300 livros:

“Além da leitura de livros da Inquisição e de cronistas do século XVI, trabalhei digitalmente os que tinham imagem e fiz uma compilação de mais de mil páginas de conteúdos, que inspiraram a construção dos personagens, diálogos e figurinos. E embora esses diálogos tenham se passado há mais de 400 anos atrás, eles encontram ressonância, infelizmente, no que vivemos no Brasil hoje, com as delações premiadas e pressões para que as pessoas falem o que os inquisidores querem que eles digam”.

OrfãsRainha - Estudos 1

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Nessa primeira fase da produção, Elza realizou oficinas e workshops com profissionais de diversas áreas do cinema e dramaturgia – roteiro, trilha sonora, figurino, encenação, entre outros – para reconstituição histórica, desenvolvimento do roteiro, composição dos personagens, cenário, vestuário.

“A inquisição é um tema muito amplo que já gerou vários filmes, obras épicas, com fogueiras, cenários imensos, muitas mortes, mostrando a crueldade de uma forma mais, digamos, expandida. Já o nosso filme é intimista, ele traz o tema para um pequeno núcleo. Assim, pude destacar o imaginário distinto de cada personagem, pontuado por efeitos especiais fantásticos”, comenta Elza Cataldo.

Ainda como parte da pesquisa do filme, Elza Cataldo realizou o documentário  “A Santa Visitação”, que aborda a primeira visita do Santo Ofício ao Brasil, no final do século XVI, e o curta-metragem de ficção “Ouro Branco”.

 

2ª etapa: formação de equipe e implantação da vila cenográfica 

De volta à Zona da Mata em 2018, Elza Cataldo inicia a segunda fase de produção com a pesquisa de locações. Em uma antiga fazenda na zona rural de Tocantins (MG), não por acaso sua cidade natal, a cineasta encontra a paisagem rústica que buscava. Em Tocantins, que passa a ser um município membro do Polo Audiovisual, tem início a implantação da vila cenográfica.

Para sua equipe técnica, a diretora convidou: Moacyr Gramacho, direção de arte; Erick Saboya, assistente de direção de arte; Luís Parras, cenógrafo; Renata Marquês, produtora de objeto; David Tygel, trilha sonora; Beth Filipecki, figurinista; Sayonara Lopes, figurinista assistente; Pedro Farkas, direção de fotografia; Daniel Sotero, cenotécnica; Hugo Drumond, platô; Gustavo Campos, som direto; Jenifer Rithelle, produção executiva; Luiz Navarro, assistente de produção; Babi Piva, direção de produção; Samantha Oliveira, produtora de elenco; Raquel Costa, assistente produção de objeto; Jonathas Marques Abrantes, registro fotográfico do processo de criação.

OrfãsRainha - equipe Arte Cenografia

Cerca de 40 pessoas residentes na região da Zona da Mata, entre técnicos, mestres de obra, marceneiros, carpinteiros e outros prestadores de serviço participam diretamente da construção de Vila Morena, lugarejo fictício onde  irá se passar o drama das três irmãs portuguesas.

“Desde o início, tive a intenção de buscar moradores da região, em especial os jovens, para compor a equipe. Primeiro porque essa região oferece poucas oportunidades de trabalho e de entretenimento. Então a gente chega oferecendo um trabalho digno, com salário digno, a chance de aprendizagem e um tratamento com muito respeito. E o que eles trazem pra gente? Uma forma de fazer: como eles cortam a madeira, como trabalham o barro, e o conhecimento que têm da região. É uma troca muito rica e prazerosa”.

Erick Saboya, Márcio Cazita, Luis Parras

Com barro, bambu, cipó, madeira e pedra, utilizando técnicas artesanais e indígenas, surgem a  capela, o engenho, oratório, roda d’água, a roça de mandioca e as casas dos poucos habitantes da vila.

3ª etapa: criação de efeitos visuais, preparação de elenco, filmagem

Na contramão das cenas épicas e impactantes que costumam marcar os filmes que abordam a Inquisição, a cineasta busca um olhar mais intimista em sua obra:

“A inquisição é um tema muito amplo que já gerou vários filmes, com fogueiras, cenários imensos, muitas mortes, mostrando a crueldade de uma forma mais, digamos, expandida. Já o nosso filme é intimista, ele traz o tema para um pequeno núcleo. As protagonistas são mulheres com um  universo imaginário muito fértil e por isso sua visão do novo mundo será embasada nos livros dos cronistas europeus do século XVI, marcada por monstros, figuras selvagens, grotescas.

Para destacar o imaginário distinto de cada personagem, Elza irá introduzir efeitos fantásticos no filme, de forma delicada e sutil.

Para o elenco principal, Elza Cataldo convidou Letícia PersilesRita Batata e Camila Botelho (indicadas para viver as três protagonistas), Caco Ciocler, Alexandre CioletteJuliana Carneiro, Jay BatistaInês PeixotoTeuda BaraEduardo MoreiraLuiz GomideCarlos MagnoElisa SantanaFafá Rennó. Já para o elenco de apoio, a seleção será feita por Elza Cataldo com participação de artistas da Zona da Mata em um processo de imersão na vila cenográfica.

Enfim, a partir de outubro, ou no mais tardar, em novembro, todas as atenções da equipe de “As Órfãs da Rainha” estarão voltadas para o céu. Se as chuvas de verão permitirem, serão realizadas as filmagens, que deverão se estender por cerca de um mês.

OrfãsRainha - Moacyr, Cesar, Elza, Mantovani 1

Na foto: Moacyr Gramacho, diretor de arte, Cesar Piva, diretor do Polo Audiovisual, Elza Cataldo, diretora e produtora,  e  Eduardo Mantovani, diretor presidente da Energisa Minas Gerais.

 



7 Comentários

  1. Responder

    Elza Cataldo

    11 de outubro de 2019

    Obrigada! A matéria ficou linda!

  2. Responder

    Sérgio Oliveira

    11 de outubro de 2019

    Esse filme será um sucesso absoluto.
    Com pessoas talentosas e dirigido por uma cineasta de talento e competência . Tenho ctz que irá brilhar nas telas de cinema.

  3. Responder

    FERNANDO BATISTA DOS SANTOS

    6 de janeiro de 2020

    Mais um sucesso desse manancial de arte que envolve nossa Cataguases MG e região. Estamos esperando com ansiedade; desde já os parabéns para o Diretor do Pólo - CesarPiva -, para a diretora e produtora Elza Cataldo.

  4. Responder

    João Manoel Ferreira Gomes

    5 de janeiro de 2021

    Ouvi há pouco na rádio CBN uma entrevista com Teuda Bara e ela mencionou o nome de Elza e o filme. A primeira coisa que fiz foi digitar o nome de Elza Cataldo na internet e me deparar com esta matéria e o Polo Audiovisual da Zona da Mata. Sou professor de História e senti uma grande emoção ao me deparar com essa forte vigem no tempo. Agora, é assistir ao filme. Parabéns à Elza e a todos.


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